quinta-feira, 29 de maio de 2008

Próxima postagem...


A chegada dos quatro convidados provoca em Victor sensações quase inexprimíveis, e a tentação de tê-los é quase maior que sua verdadeira obstinação. Saiba tudo no próximo capítulo (postagem dia 03/06/2008).

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Capítulo 2 - A chave de emergência (Parte 2)

Continuação...


Apesar de sua voz trêmula, Dyllan ergueu-se e foi até uma prateleira colada na parede ao lado, pegou o frasco plastificado e despejou o conteúdo branco nas mãos, massageando-as. Voltou-se para Victor e ajoelhou-se atrás de seu patrão, tocando as mãos nos seus ombros úmidos.
“Era tudo o que estava me faltando”, pensou Victor. “Agora sim, completo: banho, chocolate, massagem... uma noite de sexo selvagem. Seria tudo isso necessário?”.
Victor sentia os dedos de Dyllan apertarem-lhe os nervos tensos de seu pescoço e ombros, num fluxo de idas e vindas entorpecente. Era quase uma dança, onde o guia eram as mãos delicadas de Dyllan, e seu corpo apenas deixava-se levar, balançando conforme o ritmo. Poderia ser como uma orquestra, sendo Dyllan o maestro experiente, e seus reflexos corpóreos dando vida à melodia. Eram, enfim, apenas duas mãos e um corpo enrijecido. Ação e reação.
- Me conte, Dyllan, ligou para Gustav? – perguntou Victor, de olhos fechados, voz macia.
- Sim, senhor, o Sr. Corris f-foi muito gentil e solícito – respondeu Dyllan enquanto massageava seu patrão. - Ele ficou de retornar a ligação p-para o senhor.
Das costas aos ombros, e desses aos braços pálidos, retornando aos ombros, perto do pescoço, deslizando ao peito, massageando o coração. Era estranho e ao mesmo tempo confortável: Dyllan movimentava suas mãos do modo como Victor queria, sem que este necessitasse indicar por onde seguir. “Aperte... preciso de força... muito bom...”.
Dyllan puxou suas mãos cremosas para fora da banheira em um impulso repentino. Victor notou o aparente susto do rapaz.
- Por que parou? Parece-me que recuou ao...
- Não, não é isso, senhor – explicou-se Dyllan, confuso. – Apenas não me permito... digo, apenas... o s-senhor já se mostra relaxado.
- Ah, claro – confirmou Victor, com surpresa. – Nem havia reparado. Agradeço muito sua disposição, Dyllan.
- Não... não foi nada, senhor...
Victor torceu seu tronco para olhar Dyllan de frente.
- Dyllan, por que está agindo dessa forma? Não se sinta um desconhecido ao meu lado, você é meu confidente, íntimo do meu coração e do meu afeto.
- Não entendo, senhor – disse Dyllan, parecendo aflito.
- Você ultimamente age receoso comigo, como se eu fosse agredi-lo, atacá-lo. Você sabe que eu jamais faria alguma coisa a você.
- Eu sei, Sr. Victor. Me desculpe – assentiu Dyllan, quase inaudível.
Victor ensaboou-se durante alguns minutos de silêncio, quebrado pela respiração sempre alta de Dyllan. Mergulhou mais uma vez na água espumante, e levantou-se abruptamente na banheira. Saiu pingando pelo tapete de borracha, e pegou a toalha seca da parede.
- Dyllan, venha até meu quarto, quero lhe dar uma coisa.
Dyllan levantou-se encurvado e seguiu trôpego até o quarto, agindo como se estivesse sofrendo de tonturas. Victor secava-se, sacudindo os cabelos bagunçados.
- Abra a primeira gaveta do meu criado-mudo – disse Victor, saindo do banheiro com a toalha enrolada um pouco abaixo da cintura, apontando para o lado de sua cama.
Dyllan dirigiu-se com passos inconstantes até o móvel, e o abriu.
- Vê esse apito de prata, Dyllan? Meu pai me presenteou com ele quando eu fiz sete anos.
- É muito bonito, senhor – disse Dyllan, observando o apito metálico preso a uma fina corrente, também de prata, emaranhado em alguns pertences de seu patrão.
- Quando ele me deu, ele me disse mais ou menos assim: “meu filho querido, quero que veja este apito como uma chave”. E eu pensei: “Chave? Como um apito seria uma chave? O que ele abriria? O que haveria dentro desse lugar?”.
“Como se lesse minhas indagações no ar, ele me disse que se tratava de ‘...uma chave de emergência. Sempre que estiver em algum tipo de apuros...’, ele disse, ‘...use-o com força que virei o mais rápido possível onde você estiver’, e colocou-o no meu bolso, pois pendurado o apito parecia grande demais, correndo o risco de eu tropeçar e cair. Eu nunca o usei, ao menos não para emergências. Usava seguidamente para espantar alguns pássaros que insistiam em atormentar meus sonhos de adolescente pela manhã.
Dyllan continuava intrigado com aquele apito, e a intenção oculta do Sr. Victor para com ele, Dyllan.
- Dyllan, meu querido – falou Victor, agora ao lado do menino, que ergueu-se de prontidão. – Todos os dias eu lhe chamo incontáveis vezes para as mais diversas tarefas, sem nem mesmo saber se você está em condições de realizá-las.
- São minhas obrigações, senhor.
- Não gosto de dizer obrigações, Dyllan. Prefiro que não diga assim. Soa como se eu realmente lhe obrigasse a fazer coisas das quais sei que você tem prazer em fazê-las.
- Está certo, senhor...
Victor encurvou-se e pegou o apito prateado.
- Quero que, a partir de hoje, você use esse apito pendurado em seu pescoço.
- Eu?! – espantou-se Dyllan, enquanto Victor adornava seu pescoço magro com o cordão. – Mas com que...
- Desejo que desse momento em diante você tenha a possibilidade de me chamar quando precisar. Para quando estiver enrascado em problemas não solucionáveis estando sozinho.
- Sr. Victor, mas por que eu...
- Nunca se sabe, Dyllan, e quero que o carregue sempre junto ao peito. Use-o como forma de proteção, para saber que eu não quero seu mal, pois considero-o muito, meu rapaz. Você tem sido um valoroso amigo, e não quero que passe por situações amedrontadoras.
Dyllan balançava a cabeça negativamente, seus olhos castanhos vibrando com rapidez nas órbitas, lábios trêmulos.
- Eu não sei o que dizer, senhor...
- Não diga nada, meu querido – disse Victor, beijando-lhe a testa afavelmente. – Apenas use-o, e estarei tranqüilo.
Victor sorriu carinhosamente ao jovem moço. Encabulado, Dyllan retribuiu a atitude, não conseguindo encarar seu patrão nos olhos.
Ouviu-se o telefone tocar sonoramente ao longe. Victor olhou em direção à sala como se enxergasse através das grossas paredes da casa.
- Aposto uma de suas massagens que é Gustav que deseja falar comigo. Atenda-o e traga o telefone até mim. Por favor, Dyllan.
O mordomo assentiu, e de cabeça baixa, retirou-se.
Victor juntou a camisinha do tapete usada na outra noite, abriu a vidraça e jogou com força além do barranco.


*****

sábado, 24 de maio de 2008

Capítulo 2 - A chave de emergência




Dyllan quase caiu para trás ao ouvir aquelas palavras de seu patrão. Uma gota de suor surgiu da raiz dos seus cabelos escorridos e permaneceu titubeando em sua sobrancelha esquerda.
- Quero que descubra, com a ajuda de Gustav, os quatro melhores garotos das redondezas – continuou Victor. – Diga para ele que os quero somente naquelas condições previamente discutidas com ele, Gustav está a par do que se trata.
“Sabe, Dyllan, acordei inspiradíssimo hoje, decidido a fazer alguma coisa diferente. Claro, já sei o que você deve estar pensando, que eu faço isso todo o tempo, mas hoje... Hoje, exclusivamente, será diferente.
- O senhor é que manda, Sr. V-Victor – e saiu do quarto apressado.
Gustav Corris era um dos poucos e a princípio fiéis amigos do Sr. Victor. Morava a poucos quilômetros da mansão Kopperden, mas raras foram as visitas naquele ano, e quando o Sr. Corris dava o ar de sua graça era por tempos mais que limitados. Dyllan pouco sabia sobre o Sr. Corris. Seu conhecimento baseava-se na semelhança de história de vida com seu patrão, Sr. Victor, tendo ambos herdado suas casas de seus falecidos pais, e no gosto particular do Sr. Corris de andar sempre com dois cachecóis ao pescoço.
- Ei, Dyllan! – ouviu ele.
Victor escutou os pés do jovem mordomo batendo rápidos no piso de madeira no corredor.
- Sim, Sr. Victor?
- Prepara minha banheira também, preciso de um banho que possa revitalizar minhas energias agora cedo. Adoro essa palavra, revitalizar...
- Logo estará pronta, senhor.
- Faça aquela combinação de sais que só você sabe, Dyllan. Nem quero lembrar a vez que tentei fazer o serviço por mim mesmo e acabei com espumas até o lustre – e riu abobalhado, os olhos vagando em Dyllan como se revivesse aquele momento de histeria.
- É verdade, lembro-me bem, senhor – disse Dyllan, cabisbaixo. – Algo mais que eu possa fazer?
- Ah, uma última tarefa, meu querido. Junto com o café, eu quero alguma coisa doce, com chocolate, de preferência e... ah! Traga-me tudo para comer durante o banho, estou com preguiça de me dirigir até a cozinha. Mas faça a ligação primeiro, depois traga o café e prepare o banho.
- Num instante, senhor. Estarei de volta num instante.
Dyllan dirigiu-se ao centro do casarão e Victor deitou-se novamente, passando alguns minutos se espreguiçando. Seus planos surgiram como numa inspiração febril, onde a mente deturpada pelo meio distorce a realidade e faz surgir impulsos inicialmente inconseqüentes. Naquele dia, porém, Victor tinha fé que sua vida, ou ao menos sua rotina, enfim, tomaria algum rumo. “Nunca é tarde pra mudar, não é o que dizem os filósofos? Que sei eu, também não entendo de filosofia. Mas é o que se ouve por aí”.
Estralou os dedos das mãos e levantou-se, a nudez agora totalmente iluminada pela claridade incandescente que em breve iluminaria o quarto por inteiro. De pés descalços, correu para o tapete afofado, escolheu um suéter bege de gola alta, uma calça de abrigo cinza e meias de lã negras. Indo para o toalete, voltou para pegar alguma cueca de algodão, e pegou a primeira da pilha, também preta, um ano de idade. “Por que perco tempo contando os aniversários das minhas cuecas?”.
Parou e avaliou seu reflexo no espelho quadrado que fazia parte da penteadeira envernizada. “Acho que preciso de óculos, tudo parece um pouco embaçado. Pelo menos assim eu não posso notar as diferenças que mais um ano de vida dá à minha feição. Se eu ficasse velho como minhas cuecas...”.
Passados alguns minutos admirando seu rosto, a barba por fazer, Dyllan adentrou no quarto com uma bandeja de vidro servindo de apoio a uma grande xícara esfumaçante e pequenos bolinhos fofos recheados de chocolate suíço. Victor estava escorado na penteadeira, e toda a parte de trás do seu corpo brilhava e mostrava à Dyllan cada dobra das costas, indo até aos glúteos e terminando em seus tornozelos.
- E-está tudo aqui, senhor – disse ele, focando os olhos na cama desarrumada.
- Obrigado, Dyllan, já estou indo ao toalete.
- Tudo bem, Sr. Victor, eu então irei preparar o seu banho.
Dyllan ajeitou a postura de mordomo e seguiu até o lado oposto do quarto, pisando em um preservativo usado no tapete, que desgrudou de seu sapato ao pisar na madeira nua. Entrou no recinto de luzes levemente avermelhadas, que davam um toque rosado ao ambiente. A banheira oval localizava-se junto à parede a sua frente. Dyllan colocou a bandeja na pequena mesa de metal escuro ao lado da banheira e escolheu alguns sais e perfumes para o banho de seu patrão. Ligou as três torneiras térmicas e esperou pacientemente, até o banheiro estar envolto na neblina úmida da água morna.
Victor entrou no banheiro ajeitando seus densos cabelos, de olhos fechados. Dyllan estava acostumado a ver o corpo de seu patrão, vestido, seminu ou mesmo sem roupa alguma. Victor não era na prática digno de um modelo de passarelas; ainda assim, sobrepujava-se, na maior área de seu corpo, as formas adquiridas em esforço físico ao excesso de descomedimentos alimentares, bem como bolinhos de chocolate pela manhã.
Dyllan fitava o carpete branco emborrachado, e pôde ver os grandes e bem tratados pés de seu patrão, antes que ele os pusesse dentro d’água.
- Hum, você caprichou dessa vez, Dyllan! – elogiou Victor, animado.
- Tentei fazer meu melhor, s-senhor – falou Dyllan, assentindo com timidez, balançando negativa e nervosamente a cabeça.
Victor mergulhou o resto do corpo na água acolhedoramente climatizada, e um segundo depois submergiu sua cabeça. Em outro instante, ressurgiu jogando água em todas as direções com seus cabelos loiros encharcados.
- Oh, me desculpe, Dyllan, não queria molhar você, não era minha intenção!
- N-não tem problema, Sr. Victor, estou b-bem, está tudo bem – balbuciou Dyllan, com metade do rosto agora molhado, respingando em seu uniforme. Dyllan limpou-se com o lenço que carregava junto ao bolso de seu casaco, retirando a água dos olhos. Victor riu da situação, e relaxou recostando-se na lateral da banheira.
- Dyllan, aquele óleo que comprei na Holanda... ainda tem um pouco?
- Creio que sim, Sr. Victor. Não enxergo bem daqui, mas estou certo que ainda resta uma boa quantidade de...
- Ótimo! Ótimo não: perfeito! Meus ombros clamam por uma massagem. Você se incomodaria, Dyllan?
- Claro q-que não, senhor, de jeito nenhum.




FIM DA PARTE 1

terça-feira, 20 de maio de 2008

Próxima postagem...


A proposta de Victor é revelada, e Dyllan precisa cumpri-la.
Óbvio demais? Surpreenda-se com a primeira parte do capítulo 2 (postagem dia 24/05/2008).

domingo, 18 de maio de 2008

Capítulo 1 - O brilhar de Julho


Victor G. Kopperden acordou insatisfeito com a idéia de seus 34 anos terem ido embora no dia anterior. O sol tímido da estação perfurava a longa cortina que cobria inteiramente a passagem à sacada de sua casa, e por certo o horário habitual de despertar passara há algumas horas. Certamente um pequeno agrado de Dyllan, deixá-lo ali até mais tarde, ou mesmo esquecimento de sua parte em acordá-lo com o costumeiro chá de maçã.
Casa... Não seria considerado nem humildade Victor chamar seu palácio de casa, seria inverdade pura. A distância de sua cama até o teto de seu dormitório era tamanha que já pensara, durante alguns delírios comuns que ocorrem às pessoas antes de dormir, que algum número de circo fosse capaz de ser realizado ali, com um número razoável de espectadores. Porém, o único show que se poderia ver nos últimos tempos naquele ambiente era um drama do qual Victor não queria mais participar, nem queria que outros pudessem assistir.
“Não há nada mais triste para o coração de um velho homem do que a solidão da alma que ele compartilha”. Fazia alguns anos que Victor Kopperden descobrira esse pensamento nos confins de suas confabulações solitárias e de quando em quando, principalmente no inverno, o rapaz divagava em cima de suas teorias formuladas em sua mente, repensadas em poesias fracassadas, e mantidas em seu íntimo no mais profundo silêncio.
Sentou-se na cama repentinamente, lembrando aos poucos dos fatos que lhe surgiam na memória do dia anterior. O travesseiro ao seu lado estava amarrotado, assim como todo o lado direito da cama. Permaneceu alguns momentos olhando para um ponto vazio no tapete branco e peludo à frente da cama.
“Vazio. E só vazio. Acordar seria sempre assim?”.
Dyllan, o jovem mordomo londrino contratado há quase uma década para tomar conta da mansão dos Kopperden – que passara por diversas transformações durante a “gestão” de Victor -, ia abrindo a grande porta do quarto por inteira quando se deparou com Sr. Victor, metade de seu corpo nu sentado sobre a cama, a divisão das nádegas visível pela metade, as costas fortes, pelos anos de natação livre na piscina residencial, iluminadas pelos pequenos pontos do sol de julho vindos da janela acortinada. Do ângulo onde estava, podia ver o perfil de seu patrão e as formas ondulares de seus braços apertando a cabeça, massageando os vastos cabelos loiros em uma atitude própria de seus momentos de reflexão.
Os olhos claros de Victor encontraram os olhos castanhos e amedrontados de Dyllan pego de surpresa, ainda que Victor fosse o indivíduo em situação desprevenida.
- B-bom dia, Sr. Kopperden, eu... recém havia chego quando... me deparei c-com o senhor e... não queria...
- Oh, não lamente, meu querido – disse Victor, que ainda se encantava com o tom assustado e o forte sotaque de seu empregado. – Mas creio que me deva explicações por me deixar dormir até... que horas são agora?
- São onze horas, senhor – respondeu Dyllan, visivelmente constrangido. – Sinto muitíssimo, senhor, eu pensei que depois da celebração o senhor desejasse descansar um pouco além do normal, já que fora dormir também mais tarde do que de costume, mas... peço perdão novamente.
- Perdão concedido, pequeno Dylly.
- Seu chá está...
- Não, Dyllan, hoje eu não quero chá. Na verdade, a partir de hoje eu não quero mais chá pela manhã.
- Então... o que deseja, Sr. Kopperden?
- Um simples café quente seria ótimo.
- Café? – espantou-se Dyllan. – O senhor... nunca pediu café desde que eu entrei para esta casa...
- Está correto, nunca pedi mesmo, talvez porque minha etiqueta não permita essas efemeridades burguesas, certo? Ainda mais por essas zonas interioranas, não é verdade, Dylly? – e sorriu carinhosamente ao menino ainda à porta, como que escondido atrás dela, e sorriu ainda mais quando viu seu sorriso retribuído nas faces pálidas dele, seus cabelos pretos balançando em um tremor incontrolável sobre sua testa.
Victor voltou seu olhar ao lado vazio de sua cama, e lembrava agora de como as coisas aconteceram no dia anterior: a festa simplória e promíscua, somente ele, sentado em seu divã, e meia dúzia de dançarinos contratados no mesmo dia, cada um mostrando suas performances, seus corpos quentes na sala imensa com lareira, ao som de músicas dos anos 90, rebolando e balançando suas formas em todas as direções. Sempre os mesmos trajes (quando usavam algum), sempre os mesmos tipos: magros, cada músculo no seu lugar, rostos perfeitamente perfeitos, gingados de toques latinos, dignos do alto preço de contratação.
Passadas algumas horas de música alta e luz baixa - Dyllan recolhido em seu quarto de empregado, do modo como sempre o menino preferia nessas ocasiões festivas - o aniversariante dispensara cinco dos meninos e seguira até seu quarto acompanhado do “vencedor”: um belo moreno de olhar penetrante, alto, virilidade escorrendo em cada gota de seu suor. O aroma de um homem forte era tudo o que faria Victor se sentir bem em uma festa em que se comemora estar mais velho. Mais que se sentir bem, aquele homem poderia ser apenas um breve consolo, um consolo doentio, mas também necessário, assim como todos que passavam por sua cama - tirando três ou quatro paixões verdadeiras que há muito não deixavam suas formas impressas em seu colchão.
O dançarino moreno, de apelido Trevor (obviamente não seria esse seu nome real), era tudo que se podia esperar de um homem para sexo casual, e convém dizer que cumprira profissionalmente bem seu papel. Victor encontrava-se em estado de semi-sonambulismo - se isso for possível - e só pôde sentir as mãos áridas de Trevor empurrarem-no em um golpe agressivo na cama, já totalmente despido. Trevor, sem nada além de um anel desde dois andares abaixo do quarto, partiu com seus lábios, língua e dentes pelo pescoço de Victor, que gemia de prazer sem saber direito o porquê, envolvido numa ereção automática, sensível ao menor toque masculino, e esperava que esse sentimento se transmutasse. O ânimo de Trevor devia-se à recompensa pela noite mais longa – o triplo do pagamento pela dança -, e logo sua boca esfomeada encontrava-se explorando o saboroso corpo de Victor na região do baixo ventre, sua pele com pouquíssimos pêlos decorando seus contornos. O dono da festa tremia suas pernas em êxtase puramente físico, sua única preocupação restringindo-se em empurrar cada vez mais a cabeça daquele garoto até sentir tocar a parte mais funda de sua garganta. Surpreendeu-se com a habilidade de Trevor: proporcionalmente grande, seu membro fazia-o engasgar de modo espasmódico, doentio e libidinoso.
Trevor soube o momento de parar a felação e arrastou sua língua em meio à saliva e suor até mais embaixo, banhando o orifício de Victor em baba quente, baba que não parava de sair daquela boca, que chupava, mordia, sugava, lambia; não demorou muito para Victor jogar-lhe um preservativo na cara para Trevor penetrá-lo de uma vez.
A massagem bucal sexualmente violenta encharcara até o lençol. Trevor levantou com voracidade as pernas de Victor. Com uma única estocada, Victor berrou e cravou as unhas nas costas largas daquele homem predador, que ensandecido de prazer urrou com a espontânea animalidade do ricaço domado. Mais louco e excitado ficou quando Victor enfiou não um, nem dois, mas três dedos curiosos na cavidade entre as nádegas de Trevor, fazendo-o investir com maior assédio e ritmo.
Assim se seguiu por alguns minutos, com Trevor pingando suor sobre o tórax e o rosto de Victor, que bebia o que sua língua alcançava com satisfação. Era tudo o que lhe importava, ter aquele pau - mesmo que não tão grande quanto o seu - dentro do seu corpo, sentindo cada pedacinho daquele instrumento quente e nervoso raspando por suas cavidades.
Victor teve um orgasmo tão intenso que fez jorrar em seu próprio rosto. Isso levou o garoto ao extremo do prazer; o moreno ativo retirou a proteção e espalhou seu líquido inebriante pelo corpo de Victor. Jogou-se em cima dele e ali adormeceram, sujos de suor, gozo e saliva. Mais sujo se sentiu Victor ao ver que logo Trevor virou-se na cama, e quando acordou o dançarino/michê partira, sem se despedir e certamente exigindo o dinheiro através de Dyllan, que fazia o papel de pagador constantemente.
Com um balançar de cabeça, Victor voltou ao presente a tempo de gritar o nome de Dyllan e ele o ouvisse.
- Sim, Sr. Kopperden? – atendeu Dyllan, ruborizado e interessado.
- Aquele moço... o “Trevor”... saiu faz tempo?
- A-ainda era madrugada, senhor, quando aquele m-moço bateu à minha porta para....
- Ok, já entendi, Dyllan – interrompera-o Victor. Seus olhos azuis, agora verdes com a luminosidade do sol, perpassaram o corpo inteiro do seu empregado, como se buscasse alguma palavra perdida em seu discurso no uniforme do jovem rapaz. E então... um brilho estranho e suspeitosamente imaginário entrou por suas vistas e bateu fundo em seus pensamentos, um brilho febril, cheio de vontade, de inspiração, de luz... luz...
- Dyllan? – perguntou, misterioso.
- P-pois não, senhor? – Dyllan demonstrava meiga aflição.
- Tenho uma tarefa para você.

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