quinta-feira, 17 de julho de 2008

Capítulo 5 - Sopros e lágrimas




Passos, inquietude e exclamações. Era tudo o que se observaria daquela figura, a figura de Victor, o lençol ao redor de seu corpo passeando em frente à grande janela de seu quarto.
- Isso não podia ter acontecido... – ia dizendo ele.
Aos poucos, Yan foi despertando de seu sono tranqüilo, ouvindo as entrelinhas dispersas de Victor, seu atual “chefe”.
- Isso definitivamente não podia ter acontecido... – continuava Victor, frenético.
Yan talvez questionou-se por alguns segundos, sem entender a razão dos conflitos dele.
- Chefe, se isso tem alguma coisa a ver com a noite passada, tudo bem. Eu posso ser ativo na próxima vez sem maiores problemas...
Victor estacou onde estava, próximo ao cesto de almofadas, e virou-se de súbito, estarrecido com Yan e seu ponto de vista.
- Tem, tem sim, tem a ver com a noite passada – e caminhou a passos largos até a cama. Era estranho. Suas palavras não soavam de acordo nem para si mesmo, como se ele estivesse espalhando dizeres alegres em aura incendiante, em fogo inimigo, em frenesi. – Foi fantástico, uma das melhores noites da minha vida. Você – e apontava na cara de Yan -, ajoelhado naquele tapete – e mirava o dedo na direção dele -, foi perfeito!
Sua voz estava espantosa, como fúria reprimida, o que trouxe certo constrangimento e aflição a Yan. Este tentava aos poucos entender e apaziguar a situação, conforme Victor observava. Estranho.
- Você está sendo irônico, chefe? – perguntou Yan, sentando na cama fofa, intrigado.
- Não, não estou mesmo – contestou Victor, negando com a cabeça. – O como aconteceu foi soberbo, mas o como... quero dizer, a situação...
Yan achava-se em meio a um longo bocejo; Victor remeteu isso ao fato de que Yan talvez não compreendesse suas palavras ordenadamente, em um raciocínio claro e cronológico. Yan esfregava os olhos e erguia-se da cama. Observava o sol tímido lá fora, esticando os braços dormentes a ponto de estralá-los; passou a mão pelos cabelos negros, voltou-se para Victor e o segurou pelos ombros.
- Me diga, chefinho, o que está lhe incomodando?
Victor perdeu (ganhou, em sua concepção) algum tempo olhando fundo naqueles olhos azuis e inchados de Yan. De repente, soltou um gemido e apoiou a testa no peito do grandalhão – como ele era grande! -. Encarou-o outra vez, lhe deu um pequeno beijo e o abraçou fortemente.
“Se certas palavras não me remetessem a certas reações... e certas atitudes não me levassem a certas conclusões... e certos olhares não me conquistassem de tal forma que meu pensamento consiga se perder ainda mais em meio aos conflitos que em minha mente já permeiam... eu poderia ser sincero, nem tanto aos outros quanto jamais a mim mesmo. Mas isso é um luxo nas minhas convenções baratas”.
- Yan, querido... não era pra ter acontecido.
Yan manteve o abraço por alguns instantes, e então deixou-o e sentou-se devagar na cama, olhando em direção à porta. O que intrigava Victor era que Yan de repente diminuíra de tamanho, ganhara uma cor clara na pele e escura nos olhos. Seus músculos foram encolhendo assim como seu cabelo, amontoando-se rente à cabeça. Yan se transformara em seu mordomo; tinha sua fisionomia, seu jeito, seu ar franzino e amedrontado de sempre. Victor não se importou, ou melhor, praticamente não notou o acontecido.
- Eu fiz algo de ruim? – perguntou Dyllan, olhando para Victor com preocupação verdadeira.
- Não – respondeu Victor, imediatamente calmo diante do interrogatório previsto.
- Eu lhe ofendi de algum jeito?
- De maneira alguma.
- Eu me apressei?
- Talvez.
Dyllan parou. Seu tronco desnudo mostrava-se ainda mais pálido que seu rosto. Tão magro era o menino que Victor podia enxergar suas costelas sob alguns pêlos negros.
- O que você está pensando, Yan?
O garoto se levantou e encarou Victor seriamente, voz seca.
- Eu não sou Yan. Não se lembra mais do meu nome?
Victor ficara confuso. Podia reconhecer o rosto à sua frente, mas seu nome...
- Eu me lembro... – divagava ele, tentando buscar a resposta no fundo dos olhos do garoto parcialmente despido. – Você é o Damien, não?
- Errou, Damien sou eu.
Um garoto parecido com o que estava na sua frente, um pouco mais forte e enrustido, porém, saiu do seu banheiro enrolado em uma toalha e vestindo uma boina verde na cabeça. Victor sobressaltou-se.
- Você estava aí!? – perguntou ele.
- É claro – Damien respondeu. – E eles também.
Por detrás de Damien, dois homens saíram de mãos dadas, ambos vestidos a rigor, em vermelho vivo, rosas brancas na lapela. Victor lembrava dos seus nomes: eram Ulysses e Philip. Tanto eles quanto Damien exibiam sorrisos incandescentes, um tanto forçados. No instante seguinte, os três desataram a rir freneticamente, e apontavam para Victor. Victor enrubescera, pois no meio do tapete ele encontrava-se transando com Yan, o verdadeiro Yan, que balançava sua cabeça em um ritmo absurdo e gritava enlouquecido. Victor aparentemente estava penetrando Yan, mas notara que seu órgão sexual mantinha-se molengo, apenas esfregando a genitália onde deveria se encontrar o ânus de Yan. “Cadê o...?”. Victor então dirigiu seu olhar para aquele garoto seminu erguido em frente à janela.
- M-meu n-nome é D-Dylly – disse ele, e incontáveis lágrimas caíram dos seus olhos. – DILLY! D-DILLY! DILLY! – e então pôs um apito cinza na boca, que agora se achava pendurado em seu peito.
Dylly soprava com força ensurdecedora, e Victor tampava os ouvidos do som agudo do apito, das risadas dos homens que saíram do banheiro e dos gritos de Yan, delirando com um prazer inexistente. Queria fugir, estava extremamente constrangido, mas não conseguia desgrudar seu corpo do corpo de Yan. E mesmo que quisesse, ele tinha que ficar... Philip iria jogar o buquê, era o casamento dele com Ulysses, Victor precisava estar presente... Yan era tão grande... o apito não parava, cada vez mais alto...









*****

Próxima postagem...



A determinação de Victor Kopperden parece não ser das mais duradouras, e sua atitude provoca sérias reflexões para ele. Ainda é tempo de uma segunda chance, ou nunca haverá um novo comportamento do homem em busca de um companheiro eterno? A seguir, no capítulo 5. (Postagem dia 17/07/2008)

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Capítulo 4 - A verdade oculta




Lembrando de algumas horas atrás era como recordar de uma tempestade marítima e estar boiando em pleno mar: ondas gigantescas impedindo a respiração, a perda dos sentidos, para onde nadar, as forças acabando; assim pensava Victor, encostado na janela de seu quarto, admirando o início da noite daquele dia fatídico e bebendo uma taça de água com limão.
Já estava devidamente vestido: um modelo único, branco, que parecia enrolar seu corpo dos ombros até a cintura, fazendo cair uma barra da roupa bordada pelas costas; por baixo, um collant também branco, assim como suas calças, e na barra delas detalhes em ouro, assim como na mangas; por fim, e não menos deslumbrante, uma grande capa preta cobria todo o corpo, contrastando com seus cabelos dourados. Victor esperava pacientemente o início do jantar. Dyllan o chamaria a qualquer minuto, o que permitiu ao dono da casa alguns momentos de solidão e pensamentos insólitos.







Os rostos estarrecidos dos quatro rapazes ao saberem da verdadeira intenção de Victor ainda eram frescos em sua mente. Ulysses e Yan ficaram de boca aberta por alguns instantes, mas logo depois das explicações sorriram e mostraram-se animados por essa “disputa”, não vista nestes termos por Victor. Philip e Damien, de contraponto, assustaram-se ao ponto de quase desistirem da estadia e da volumosa fortuna atualmente em suas contas. O garoto Damien saíra do estado de dormência e iniciou uma aflitiva caminhada pela sala, indo e voltando em frente à porta de saída, esfregando os braços e perguntando diversas vezes se era casamento pra valer.
- E por acaso é possível dois homens se casarem por aqui?! – indagava Philip, após literalmente saltar do sofá na direção de Victor, um suor frio brilhando em seu rosto.
Victor tentou ao máximo acalmar a explosividade dos ânimos, o que levou alguns minutos devido à tagarelice e movimentação dos garotos.
- A reação de vocês não me é surpreendente – dissera ele, enquanto Philip e Damien voltavam lentamente aos seus lugares. – Perdão por decepcioná-los, mas a minha intenção está clara a todos vocês, e qualquer explicação adicional será dada com calma no jantar.
- Mas...
- Philip, querido, eu peço a gentileza de que ao menos esperem até o jantar, todos vocês, e ouçam o que tenho a dizer, perguntem o que acham conveniente perguntar, eu responderei com o máximo de clareza possível. Antes, entretanto, é necessário que todos estejamos de cabeça fria, estômago cheio e roupas limpas. Dyllan certamente já ajeitou tudo no quarto de cada um de vocês. Dyllan!
O mordomo apareceu em questão de segundos vindo da cozinha.
- Sim, Sr. Kopperden?
- Por favor, leve-os aos seus respectivos quartos, sim? Quanto a vocês, o seu almoço será enviado até seus dormitórios, e peço que fiquem lá durante toda a tarde, até que Dyllan os chame para a janta, na sala de jantar.
- E o que faremos enquanto isso? – perguntou Ulysses.
- Em cada quarto há televisão, DVD, aparelho de som, livros, filmes, um toalete privado... e claro, uma boa cama espaçosa com cobertores e travesseiros confortáveis – Victor falava com rapidez, não querendo prolongar aquele interrogatório. - Sugiro que descansem, creio que a viagem foi cansativa. Qualquer coisa que desejarem, Dyllan lhes mostrará os interfones.
- Só falta o Mickey pra Disney Land, a meu ver – sugeriu Yan.
- O Pateta a gente já tem – retrucou Philip, ambos trocando sorrisinhos irônicos.
- Eu recuso o ratinho afeminado – completou Ulysses.
As risadas aumentaram, e cada vez mais Victor se irritava com a leviandade daqueles homens sentados em seus sofás, rindo de uma situação não bem planejada anteriormente por ele, mas em que apostava tudo que tinha por um final feliz. Respirou fundo, e lembrou-se da paciência que sempre prezara em conversas.
- Só tenho um último pedido a fazer – disse Victor.
- Hum, você quer filhos até o próximo ano? – satirizou Damien.
- Eu adoraria se pudesse tê-los – respondeu Yan.
Victor os encarou por mais uns instantes e continuou.
- Meu pedido, na verdade um reforço, é que permaneçam nos quartos, e peçam tudo que precisarem a Dyllan ou a quem atendê-los. Prometo ser apenas por hoje. Não será tão ruim, e garanto que é necessário esse tempo para vocês se instalarem devidamente.
- Ou não, certo? – opinou Damien.
Victor encarou o jovem patinador e tomou fôlego.
- Ou não.
Seguiu-se então um breve silêncio, até Dyllan pedir gentilmente que eles o acompanhassem. Em pouco menos de vinte minutos todos os quatro estavam em seus quartos, que ficavam na ala oeste da mansão.
Passada a tarde onde Victor apreciou cochilos quebrados por despertares abruptos, agora ele se encontrava pensativo, tentando delinear os perfis dos quatro homens hospedados sob seu teto. “Um deles será meu, para sempre”. Nesta altura, porém, o herdeiro do velho Sr. Anthon Kopperden não fazia idéia de qual deles seria.
Então aconteceu outra vez, mas de um jeito totalmente oposto de antes. Lá fora, o brilho da lua iluminou seus olhos azuis intensamente, e uma sensação quente percorreu todo o corpo de Victor. Dessa vez, entretanto, esse arrepio repentino foi inexplicavelmente aterrador, como um tremor abusivo dentro dele. Victor ficou perturbado, e a luz inspiradora daquela manhã pareceu distante, já fria. Longe.
Balançou a cabeça rapidamente e voltou-se para o espelho.
“Com essa lua ao fundo e a capa escura, se eu levantasse os braços e arreganhasse os dentes ficaria idêntico a um dos irmãos de Drácula... Ele tinha irmãos?”.
- Sr. Kopperden?
Victor recolheu os braços no instante em que foi surpreendido por Dyllan, como uma criança pega fazendo arte.
- O jantar está servido, seus c-convidados já encontram-se à sua espera.
- Vou em um instante, Dyllan, obrigado.
Os passos de Dyllan tornaram-se inaudíveis no corredor. Victor admirou-se mais uma vez no espelho da penteadeira, sacudindo os cabelos e espreguiçando os olhos.
“Agora, ora de procurar um pescoço e saciar minha sede inédita”.
Victor saiu do seu quarto e virou à esquerda, indo em direção a uma pequena escada circular que terminava em um corredor estreito e atapetado, passando por algumas portas até chegar em uma abertura que permitia a entrada na sala de jantar.
O ambiente tinha paredes vermelhas e abajures por todos os cantos, em cima de mesas, pendurados no teto ou presos nas paredes. À sua frente encontrava-se uma mesa consideravelmente grande, lotada dos mais diversos pratos: saladas verdes e vermelhas, massas enroladas em molhos levemente apimentados e algumas frutas decorativas. No centro ostentava-se um prato coberto por uma tampa platinada, o prato especial. Tudo isso, porém, perpassou em uma fração de segundo insignificante para Victor, que se deteve em admirar seus quatro convidados, agora de feições mais descansadas. Yan e Ulysses estavam à direita, com Philip e Damien no lado oposto da mesa. A ponta estava reservada para o anfitrião. Victor cumprimentou-os com um animado “boa-noite” que lhe foi afavelmente retribuído. Ele, então, dirigiu-se até sua cadeira acolchoada, despiu a imensa capa e entregou-a para Dyllan, que arrastou a cadeira para que seu patrão sentasse. Dyllan pôs suavemente a capa sobre um móvel no canto e dirigiu-se para um pouco além de Damien, ficando próximo à parede, mãos para trás.
Victor encarou brevemente seus convidados. Yan, do seu lado esquerdo, vestia um casaco vermelho esportivo, zíper e capuz pendurado às costas. Seus músculos esticavam o tecido, que contrastava com o azul profundo de seus olhos marotos. Ulysses, mais além, trocara o sobretudo anterior por um modelo mais claro, cor creme, e também retirara o chapéu, mantendo o perfeito rabo de cavalo e deixando duas leves franjas que de vez em quando as punha atrás das orelhas. Damien, na frente do caubói, vestira um moletom preto rasgado nas mangas, revelando seus braços claros e desenhados. O menino ainda estava inquieto, tamborilando as mãos postas uma sobre a outra, na frente da boca. Por fim, na direita de Victor, Philip apresentava-se com um elegante terno escuro e camisa branca, sem gravata, digno de um homem de classe.
Victor, então, deu as honras da cerimônia.
- Antes de mais nada, queria dizer o quanto estou feliz em tê-los aqui comigo, e mais feliz ainda em saber que nenhum de vocês fugira pela janela.
Os cinco homens a mesa riram prazerosamente, e foi Yan quem tomou a atitude de pegar em sua mão.
- Eu jamais fugiria daqui, chefe – disse ele, fazendo Victor sorrir. – E você está mais do que lindo esta noite.
- Obrigado, Yan, você também, vocês todos, de fato. Dyllan, você já pode revelar o prato principal.
O menino ajeitou levemente sua gravata borboleta e, com um pano, retirou a tampa, fazendo um grande vapor subir constantemente. Na bandeja, um grande pedaço de carne bovina cortado em pedaços achava-se coberto por um delicioso molho com champignon, fios de ovos ao redor permitindo um sabor agridoce aos paladares.
- Pai do céu, parece delicioso – disse Ulysses, lambendo os beiços.
- Por favor, sirvam-se, chega de cerimônias.
Cada um serviu-se como preferiu, e num minuto ouviam-se apenas os talheres arranhando os pratos de porcelana inglesa e o bater de copos na toalha branca. Ulysses parecia faminto.
- Foi você mesmo que fez, garoto? – perguntou ele a Dyllan.
- C-com ajuda, mas a maior parte fui eu, sim – respondeu ele, receoso.
- Nunca comi tão bem na minha vida, nem minha mãe cozinha tão bem. A maciez... Está maravilhoso.
- Como sempre, Ulysses – falou Victor, admirando seu mordomo. – Dyllan é um exímio cozinheiro, é ele quem comanda as mulheres na cozinha.
Dyllan engoliu em seco, e aprumou-se novamente na parede, observando se os ceiantes necessitavam de mais bebidas. Ulysses limpou-se com o guardanapo de pano.
- Mas se me permite, Sr. Victor...
- Apenas Victor, Ulysses – corrigiu o anfitrião.
- Se me permite, então, Victor... já sabemos de alguns detalhes do seu amável mordomo, porém nada muito profundo do senhor... digo, de você.
Victor tomou mais um gole de sua bebida fresca com limões.
- Ulysses, creio que não tenho nada de muito relevante agora para falar para vocês.
- Ah, como assim, nada? Certamente você tem uma vida acima de tudo interessante.
- Nem tanto, querido, nem tanto. Aproveitem o jantar. Dyllan, sirva-nos novamente de bebidas, por favor.
Ulysses continuou a olhar diretamente para Victor, levantando uma das sobrancelhas, ainda duvidando da resposta do “caçador de maridos”, enquanto Dyllan os servia educadamente. Victor percebeu e completou:
- Não há nada que eu possa dizer já que nada me vem à mente nesse momento. Tenho certeza que nesses dias que se seguirão vocês me conhecerão melhor, assim como eu a vocês.
- Então todos concordaram em ficar? – perguntou Damien, curioso.
- Hum, aparentemente sim... não? – respondeu Victor, surpreso.
- Pois é, cara, algumas coisas ainda não estão claras pra mim. Por exemplo, como vai funcionar o seu processo de escolha? Um processo eliminatório, um torneio, soma de pontos, como?
Damien certamente era um típico garoto urbano, trejeitos e palavras características da classe. Victor era fã de estilos próprios.
- É uma boa pergunta, Damien, apesar de eu não saber respondê-la como deveria. O que posso dizer é que não será nenhum tipo de competição ou reality show qualquer. É ainda muito cedo para eu pensar em um modo de escolher entre vocês quatro, cada um mais... fascinante que o outro. Creio que na hora certa eu saberei escolher.
- E quando será a hora? – insistiu Damien. – Vai demorar muito?
- A pressa depende de vocês, mas posso garantir que tentarei não tornar a estadia de vocês aqui insuportável. Depois de hoje, se vocês quiserem partir, eu não vou impedi-los, mesmo que eu fique muito triste com essa decisão.
Philip contorceu-se na cadeira.
- E quanto... desculpa a pergunta, patrão, mas... e quanto ao dinheiro... se a gente desistir a gente perde?
- Não, Philip, depois deste jantar não há razão para eu retirar o dinheiro de vocês. Eu mudei de idéia, e pensando melhor vocês mereciam até mais do que lhes foi pago. As suas companhias me fazem muito bem. Portanto não, não vou retirar o dinheiro de vocês.
- Nem se a gente não for o escolhido? – questionou Damien.
- Muito menos dessa maneira, meu jovem. Contudo, reitero que, na minha companhia, o conforto e os benefícios serão... vitalícios. Apesar de tudo, fica a cargo de vocês.
Agora que todos mostravam ares mais aliviados e contentes, o resto do jantar transcorreu num clima alegre e de bom astral, com Victor detalhando as proporções dos seus terrenos, o sistema de aquecimento da piscina e os planos para os próximos dias.
Para Victor, estar naquela sala acompanhado de homens tão deslumbrantes e interessantes o fazia rir quase insanamente, os mais variados e deturpados desejos se acumulando em sua cabeça. O mastigar, os sorrisos, o gosto da bebida gelada, o roçar de pernas embaixo da mesa, o balançar de cabelos, os olhares, os toques, era como um sonho quase molhado. Molhados, porém, eram apenas os olhos de Victor, que durante a refeição esquecera por completo a idade que tinha, das coisas de que era dono, de suas pretensões, suas metas, do cuidado que mantinha nas palavras.
Quando a mesa foi limpa após todos declararem estar satisfeitos, Dyllan voltou com um grande recipiente recheado de um mousse de creme com morangos em calda, e serviu a cada um em uma espécie de caneca transparente.
Ulysses dirigiu-se até o toalete na direção em que Victor chegara, e o resto permaneceu degustando a sobremesa. Após mais alguns minutos de conversa, Victor indicou que eles aproveitassem o resto da noite na sala principal, bebendo e ouvindo as músicas que desejassem, pois estava estranhamente cansado e queria se retirar.
- Sr. Kopperden, eu p-poderia falar com o senhor por um instante? – perguntou Dyllan quando Victor passara por ele ainda na sala de jantar. - Prometo não demorar.
- É claro, Dyllan, vamos até a cozinha. Durmam bem, rapazes. Até amanhã cedo, e perdoem-me mais uma vez pela minha dor de cabeça.
Os rapazes saíram pela porta do corredor que levava até a sala, exceto Ulysses que não voltara do banheiro, aparentemente perdido pelas inúmeras portas da mansão.
Victor e Dyllan andaram alguns passos pelo corredor até a cozinha, um ambiente claro com fogões, refrigeradores, mesas e armários espalhados em singular decoração. Dyllan parou-se perto de uma das janelas e virou-se para encarar seu patrão.
- Nem sei como começar, Sr. Victor, mas acho que é minha obrigação falar o que sinto.
Victor mostrou-se confuso.
- É claro, fale-me.
- Você... o s-senhor confia nesses homens, Sr. Victor?
Dyllan parecia firme apesar de seus olhos apresentarem receio. Victor tentou encarar seriamente a pergunta de Dyllan.
- É um pouco cedo para confianças extremas, mas... o que há de mais em minhas ações? O que você viu que eu perdi, Dyllan?
- Eu não sei, s-senhor, nada de duvidoso, mas... eles não me parecem dignos de... dignos não é a palavra adequada, eles... eles não...
- Apenas me fale o que você pensa, fale – Victor estava impaciente, sem esbravejar.
- Bem, por exemplo... um deles, o mais novo, nem sabe se vai permanecer aqui, hospedado, e o outro mostra-se mais interessado no dinheiro do que em qualquer outra coisa... e aquele rapaz alto, fica lhe tentando com certas maneiras...
- Dyllan, querido, é normal que eles ajam assim, é a natureza deles, e na situação em que estão é mais que compreensível.
- Talvez, mas e esse último, esse Ulysses, por onde ele anda que não apareceu até agora? Durante a tarde ficou me enchendo de perguntas e pedidos...
- Eu não sei, ele não deve estar muito bem como eu, acho que bebemos um tanto além do limite. De resto, ele está curioso como todos os outros, Dyllan. Eu acho que sua preocupação é um tanto infundada, mas eu agradeço mesmo assim. Eles são só garotos de programa, lembre-se, agir de maneiras um tanto exacerbadas e levianas é comum.
Dyllan limpou o suor da testa com seu lenço. Sua boca tremia.
- Eu entendo, senhor, m-mas quem precisa lembrar disso é o senhor, Sr. Victor. Esta é a única verdade confirmada até então, a única coisa que o senhor sabe sobre as pessoas que eles são. Não ignore esse fato, senhor, pense um pouco mais.
- Dyllan, é o primeiro dia deles aqui, nem se passaram vinte e quatro horas, o que você esperava deles?
- Entendo, senhor. Estava apenas tentando alertá-lo de possíveis... de uma possível decepção quanto a qualquer um deles. Perdão pela intromissão, senhor, mas meu serviço também é avisá-lo de qualquer coisa suspeita.
- Eu sei, pequeno Dilly – disse Victor, sorrindo, afagando a cabeça dele -, sei o quanto você é dedicado. Seu pai lhe ensinou muito bem as funções de governo dessa casa e de seus patrões, e isso nunca foi ruim. Apenas lhes dê uma chance, como eu estou dando para minha vida.
- Tudo bem, s-senhor, desculpe novamente, mas mesmo assim vou pedir a um dos seguranças que vigie os corredores durante a noite.
- Você que sabe, e não precisa se desculpar. Quem precisa de proteção aqui é mais você do que eu. A proteção é válida para quem precisa dela. A propósito, onde está o presente que lhe dei pela manhã?
Victor percebeu a reação um tanto assustada de Dyllan, que agora tremia não só a boca, como as mãos e as pernas.
- Me d-desculpe, senhor, eu devo tê-lo deixado em algum lugar por aqui... ah, está ali no canto, senhor.
Victor foi até uma estante e pegou o velho apito conservado, e pendurou-lhe no pescoço de Dyllan.
- Eu dei este apito para você usá-lo, Dyllan, não esqueça dele, ok? É um grande favor que você me faz sabendo que você não precisa de mim. Certo? – perguntou por fim, segurando os ombros de seu empregado. – Agora vá descansar, deixe o trabalho sujo por conta das serviçais. Eu vi que você coçava os olhos durante o jantar, deve ter trabalhado muito por hoje. Boa noite, e durma bem.
Victor voltou-se para a saída, rumando para seu quarto.
- Sr. Victor?
Victor estacionou e virou-se para Dyllan.
- O senhor pretende mesmo se casar com um deles?
Victor fechou os olhos e sorriu com a inocência do rapaz.
- Nada me faria mais feliz do que ter um deles comigo por toda a vida.
Victor deixou-o na cozinha e subiu a escadaria. Voltou seus pensamentos para antes do jantar, onde lembrava a situação como um mar agitado.
“Nesse mar eu pude ao menos respirar. E depois do afogamento, ainda estava na praia, cercado por todos aqueles surfistas, pescadores, navegadores, exploradores... salva-vidas?”.
Aturdido com os eventos daquele dia extraordinário, cabeça baixa, deparou-se com Yan encostado à porta do seu dormitório, sorrindo em sua direção.
- Sr. Hick, tudo bem? – perguntou Victor, faceiro.
- Ah, chefe, está tudo ótimo comigo, e com o senhor?
- Maravilhoso, obrigado.
Victor não sabia o porquê, mas sentiu uma vibração incomum vinda de Yan.
- Onde estão os outros? Não ouço nada da sala.
- Foram dormir, foram muitas milhas até aqui, sabe...
- Imagino...
O sorriso persistia nas feições de Yan. “Lindo, tão lindo”.
- Qual o motivo desta “visita”, problemas para dormir?
- Pode-se dizer que sim, chefe, mas na verdade tem outro problema – e Yan estendeu a mão até o ombro esquerdo de Victor, empurrando-o até a parede.
- Hum, e qual... qual seria?
- Sabe, chefe, eu não consigo dormir sozinho, e aquela cama é grande demais até mesmo pra alguém como eu. E também estou sentindo... um calor...
Enquanto dizia essas últimas palavras, Yan ia descendo o zíper do seu casaco, revelando o peitoral nu, e logo as dobras de seu abdômen até chegar à cintura, abrindo por completo o casaco. A testa de Victor, por mais alto que ele fosse, batia no nariz grave de Yan. Victor demorou-se algum tempo perdido em meio àquele corpo estrondoso perto de si, de fato bastante quente, enquanto Yan sorria infantilmente para ele, sua grande boca levemente aberta.
- Sentir calor sozinho nunca é bom, chefe. Talvez eu... tivesse a honra de também ser convidado para o seu quarto... – e foi se aproximando... – para a sua cama... – cada vez mais... – para o seu abraço... – e sussurrou: - seu corpo todo...
Victor não teve escolha, e mesmo sabendo que não fora assim que premeditara, não lhe restava alternativa senão seguir sua libido.
Com uma delicadeza incomparável, Yan lhe beijou tão docemente que o gosto da sobremesa se fez esquecido em meio ao sabor natural e aconchegante daquela boca macia, tão macia quanto seus braços e suas mãos segurando seu pescoço.
Depois do que pareceram consideráveis minutos, Victor lembrou-se do segurança noturno e ambos entraram no quarto. Yan foi rápido, e logo se livrou do casaco, retirando-o para trás, exibindo toda a virilidade que tinha. Com beijos cada vez mais intensos, Yan retirou cada peça de roupa de Victor, desenrolando-o, deixando-o completamente despido - exceto a cueca - e ereto.
Victor sentou-se na cama e Yan aproximou-se. Victor queria beijar cada pedaço daquele homem, e passou seus lábios molhados por todo seu peito, seus músculos divinamente belos, poucos pêlos indicando o caminho da tentação. Com uma pressa inesperada, Victor abriu o zíper da calça de Yan e abocanhou o volume através da cueca boxer vermelha, o lugar onde a extremidade escondia-se levemente molhado. Yan já praticamente delirava, mas pegou-o pelos braços e o levantou, cara a cara com o loiro.
- Chefe, você merece isso primeiro.
Mais um beijo demorado, acompanhado de apertos e massagens sensuais, e Yan colocou Victor confortavelmente deitado na cama. Com apenas um movimento, puxou a cueca preta de Victor e atirou-a na penteadeira. Sua boca percorreu suas coxas, sua virilha, e logo Victor sentiu aquele calor úmido aquecer todo seu membro, em movimentos tão intensos quanto as mãos que agarravam seu tronco. Yan felava tão gentilmente, mais preocupado em dar prazer do que recebê-lo, acariciando cada parte do corpo de Victor que alcançava.
Minutos, muitos deles, Victor não sabia. Não agüentava mais, e não queria que seu prazer acabasse agora. Chutando Yan no peito, sem agressividade, jogou-o no tapete peludo e partiu em direção ao que desejava: o volume por baixo de sua cueca. Postando-se entre as pernas do rapaz, Victor baixou-a lentamente para ver saindo aquele verdadeiro mastro pulsante. Em um impulso selvagem, Victor pôs quase tudo dentro da boca. “Por Deus, que gosto bom!”.
Yan era bastante proporcional em tudo, concluiu Victor, e chupou-o como se aquilo lhe garantisse a própria sobrevivência. Era gostoso, como era gostosa aquela sensação, ouvir aquele homem todo delirando, afundando sua cabeça cada vez mais, a temperatura dos dois cada vez mais alta. Tão intenso foi que Yan esparramou gozo por todo seu corpo. Era lindo ver aquele fluio sair de Yan, e Victor espalhou-o pela barriga agora levemente suada dele, entusiasmado com o cheiro e o prazer que aquela sensação lhe trazia.
- Eu quero mais, chefe... mais... – balbuciou Yan, olhos semi-abertos.
Yan virou-se de costas e ajoelhou-se, revelando os glúteos grandes e lisos, seu orifício indo e voltando em reflexos musculares. Ele não precisaria repetir, Victor sabia o que fazer, pois também queria. Em uma das caixas da penteadeira, Victor catou um preservativo e em poucos segundos estava vestido. Pensou em levantar-se para pegar algum lubrificante, mas Yan pareceu ler seus pensamentos.
- Eu quero assim mesmo, chefe. Agora.
Era demais para Victor. Pensou que não suportaria tamanho prazer, e simplesmente deixou-se levar ao introduzir por completo seu pênis dentro de Yan, que gritou alucinado com o prazer misturado com dor, dor compensada, dor desejada, dor e prazer, muito mais prazer que dor, uma coisa só para ele, uma coisa excepcionalmente boa.
Victor pensou que ia explodir em dor de cabeça, ia derreter de tanto suar, ia cair exausto pelas dores musculares e desmaiar, mas cada vez que seu corpo ousava cair, seus pés o obrigavam a empurrar e jogar seu peso contra Yan. Ele não teve noção certa de quando foi, nem quanto tempo durou, mas Victor ejaculou no ato, e continuou por alguns instantes até não mais poder.
Yan agachara-se e dirigiu-se até Victor, beijando-o calidamente, e abraçando-o forte com seus braços bronzeados. E naqueles braços Victor adormeceu, sem nem tempo de lembrar do que lhe inspirara pela manhã, do que prometera a si mesmo, do que tinha decidido mudar em seu comportamento a partir daquela data. Não valia a pena lembrar, nem havia mais como lembrar.
E mesmo se pudesse, após essa experiência, Victor Kopperden faria questão de esquecer.



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