sábado, 24 de maio de 2008

Capítulo 2 - A chave de emergência




Dyllan quase caiu para trás ao ouvir aquelas palavras de seu patrão. Uma gota de suor surgiu da raiz dos seus cabelos escorridos e permaneceu titubeando em sua sobrancelha esquerda.
- Quero que descubra, com a ajuda de Gustav, os quatro melhores garotos das redondezas – continuou Victor. – Diga para ele que os quero somente naquelas condições previamente discutidas com ele, Gustav está a par do que se trata.
“Sabe, Dyllan, acordei inspiradíssimo hoje, decidido a fazer alguma coisa diferente. Claro, já sei o que você deve estar pensando, que eu faço isso todo o tempo, mas hoje... Hoje, exclusivamente, será diferente.
- O senhor é que manda, Sr. V-Victor – e saiu do quarto apressado.
Gustav Corris era um dos poucos e a princípio fiéis amigos do Sr. Victor. Morava a poucos quilômetros da mansão Kopperden, mas raras foram as visitas naquele ano, e quando o Sr. Corris dava o ar de sua graça era por tempos mais que limitados. Dyllan pouco sabia sobre o Sr. Corris. Seu conhecimento baseava-se na semelhança de história de vida com seu patrão, Sr. Victor, tendo ambos herdado suas casas de seus falecidos pais, e no gosto particular do Sr. Corris de andar sempre com dois cachecóis ao pescoço.
- Ei, Dyllan! – ouviu ele.
Victor escutou os pés do jovem mordomo batendo rápidos no piso de madeira no corredor.
- Sim, Sr. Victor?
- Prepara minha banheira também, preciso de um banho que possa revitalizar minhas energias agora cedo. Adoro essa palavra, revitalizar...
- Logo estará pronta, senhor.
- Faça aquela combinação de sais que só você sabe, Dyllan. Nem quero lembrar a vez que tentei fazer o serviço por mim mesmo e acabei com espumas até o lustre – e riu abobalhado, os olhos vagando em Dyllan como se revivesse aquele momento de histeria.
- É verdade, lembro-me bem, senhor – disse Dyllan, cabisbaixo. – Algo mais que eu possa fazer?
- Ah, uma última tarefa, meu querido. Junto com o café, eu quero alguma coisa doce, com chocolate, de preferência e... ah! Traga-me tudo para comer durante o banho, estou com preguiça de me dirigir até a cozinha. Mas faça a ligação primeiro, depois traga o café e prepare o banho.
- Num instante, senhor. Estarei de volta num instante.
Dyllan dirigiu-se ao centro do casarão e Victor deitou-se novamente, passando alguns minutos se espreguiçando. Seus planos surgiram como numa inspiração febril, onde a mente deturpada pelo meio distorce a realidade e faz surgir impulsos inicialmente inconseqüentes. Naquele dia, porém, Victor tinha fé que sua vida, ou ao menos sua rotina, enfim, tomaria algum rumo. “Nunca é tarde pra mudar, não é o que dizem os filósofos? Que sei eu, também não entendo de filosofia. Mas é o que se ouve por aí”.
Estralou os dedos das mãos e levantou-se, a nudez agora totalmente iluminada pela claridade incandescente que em breve iluminaria o quarto por inteiro. De pés descalços, correu para o tapete afofado, escolheu um suéter bege de gola alta, uma calça de abrigo cinza e meias de lã negras. Indo para o toalete, voltou para pegar alguma cueca de algodão, e pegou a primeira da pilha, também preta, um ano de idade. “Por que perco tempo contando os aniversários das minhas cuecas?”.
Parou e avaliou seu reflexo no espelho quadrado que fazia parte da penteadeira envernizada. “Acho que preciso de óculos, tudo parece um pouco embaçado. Pelo menos assim eu não posso notar as diferenças que mais um ano de vida dá à minha feição. Se eu ficasse velho como minhas cuecas...”.
Passados alguns minutos admirando seu rosto, a barba por fazer, Dyllan adentrou no quarto com uma bandeja de vidro servindo de apoio a uma grande xícara esfumaçante e pequenos bolinhos fofos recheados de chocolate suíço. Victor estava escorado na penteadeira, e toda a parte de trás do seu corpo brilhava e mostrava à Dyllan cada dobra das costas, indo até aos glúteos e terminando em seus tornozelos.
- E-está tudo aqui, senhor – disse ele, focando os olhos na cama desarrumada.
- Obrigado, Dyllan, já estou indo ao toalete.
- Tudo bem, Sr. Victor, eu então irei preparar o seu banho.
Dyllan ajeitou a postura de mordomo e seguiu até o lado oposto do quarto, pisando em um preservativo usado no tapete, que desgrudou de seu sapato ao pisar na madeira nua. Entrou no recinto de luzes levemente avermelhadas, que davam um toque rosado ao ambiente. A banheira oval localizava-se junto à parede a sua frente. Dyllan colocou a bandeja na pequena mesa de metal escuro ao lado da banheira e escolheu alguns sais e perfumes para o banho de seu patrão. Ligou as três torneiras térmicas e esperou pacientemente, até o banheiro estar envolto na neblina úmida da água morna.
Victor entrou no banheiro ajeitando seus densos cabelos, de olhos fechados. Dyllan estava acostumado a ver o corpo de seu patrão, vestido, seminu ou mesmo sem roupa alguma. Victor não era na prática digno de um modelo de passarelas; ainda assim, sobrepujava-se, na maior área de seu corpo, as formas adquiridas em esforço físico ao excesso de descomedimentos alimentares, bem como bolinhos de chocolate pela manhã.
Dyllan fitava o carpete branco emborrachado, e pôde ver os grandes e bem tratados pés de seu patrão, antes que ele os pusesse dentro d’água.
- Hum, você caprichou dessa vez, Dyllan! – elogiou Victor, animado.
- Tentei fazer meu melhor, s-senhor – falou Dyllan, assentindo com timidez, balançando negativa e nervosamente a cabeça.
Victor mergulhou o resto do corpo na água acolhedoramente climatizada, e um segundo depois submergiu sua cabeça. Em outro instante, ressurgiu jogando água em todas as direções com seus cabelos loiros encharcados.
- Oh, me desculpe, Dyllan, não queria molhar você, não era minha intenção!
- N-não tem problema, Sr. Victor, estou b-bem, está tudo bem – balbuciou Dyllan, com metade do rosto agora molhado, respingando em seu uniforme. Dyllan limpou-se com o lenço que carregava junto ao bolso de seu casaco, retirando a água dos olhos. Victor riu da situação, e relaxou recostando-se na lateral da banheira.
- Dyllan, aquele óleo que comprei na Holanda... ainda tem um pouco?
- Creio que sim, Sr. Victor. Não enxergo bem daqui, mas estou certo que ainda resta uma boa quantidade de...
- Ótimo! Ótimo não: perfeito! Meus ombros clamam por uma massagem. Você se incomodaria, Dyllan?
- Claro q-que não, senhor, de jeito nenhum.




FIM DA PARTE 1

4 comentários:

Teacher Léo disse...

Essa história é realmente boa! Tem um modo fácil de palavras que torna ela atrativa e fácil de acompanhar.

Parabéns pela idéia e pela criatividade. :-)

Jackson disse...

A história tá mtoo legal!!
Só vejo um problema... Esse negócio de colocar nomes estrangeiros, sem critério, deixa o texto muito forçado (parece que o autor quer se esconder demais...)
Mas, no geral, está mto bom!
Sucesso!

Anônimo disse...

Poucas pessoas têm o dom de compreender o propósito de um autor... Menos ainda, o dom de respeitá-lo... Porém o que me conforta é a existência pessoas que compreendem e respeitam!

Bju Dekinha

Anônimo disse...

É o tipo de narrativa que prende a atenção, definitivamente. Muito bem escrito. ;]