quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Capítulo 11 - Obviedades






Parecia que os céus haviam descarregado toda a fúria em uma única noite, da sorte que Victor despertou sozinho e no ambiente em completo silêncio, iluminado com o sol não mais oculto pelo negrume das nuvens. Seus olhos já se abriam sem esforço extra, mas seu corpo parecia discordar quando ele ficou em pé e recostou-se rapidamente na janela; todos os músculos, principalmente os das pernas, estavam endurecidos como se tivesse corrido por todo o terreno da mansão, típico exercício esquecido há alguns anos. Aos poucos, enquanto o sol clareava o azul dos seus olhos, as lembranças lhe surgiam em recortes distorcidos, sempre mais distantes do que realmente encontravam-se.
“Não é a primeira nem a segunda vez que essas reflexões atrasadas surgem em minha cabeça instável, o que me irrita a medida que o tempo passa. Tempo que eu sinto não somente passar, mas ultrapassar-me como uma fina lâmina que engrossa aos poucos, sem jamais perder o fio. O tempo dentro de mim é sempre mais prolongado e mais sofrido, ainda que eu saiba sempre o dia certo, o quanto falta para o mês seguinte, há quantas semanas não faço nada de útil. Apenas os dias contados para sentir-me sozinho outra vez não chegam-me ao conhecimento, não por serem variáveis, e sim por serem, num enclausurado torpor, infindavelmente constantes”.
Destrancando em cima e em baixo nas laterais da grande janela, Victor abriu-a por inteiro como uma porta, sentindo a brisa morna e úmida beijar-lhe o corpo desnudo, os cabelos loiros com ainda mais cor agitados por sobre os ombros. Espreguiçou-se por compridos segundos, elevando os braços o máximo que sua flexibilidade lhes permitiam, inspirando profundamente e sentindo as solas dos pés aderirem ao calçamento poroso da sacada. Em forma de semicírculo, o espaço iluminava-se todos os dias de manhã à tarde, o sol fazendo seu ciclo refletindo nas vidraças enquanto atravessava o céu. Nas beiradas, uma proteção na linha da cintura de madeira maciça combinava com o tom escurecido do casarão; exatamente no meio do cercado, uma belíssima estátua de duas mãos masculinas seguravam um vasilhame com meio metro de diâmetro e pouco profundo, contendo a água da chuva até próximo da borda. Victor seguiu descalço até a estátua e jogou algumas das folhas verdes que boiavam no recipiente para baixo, cerca de quatro metros, onde uma roseira preenchia o terreno gramado. As rosas brancas eram poucas, mas tiveram sua função assim que Victor as observou.
“Hoje é... 2 de julho?”.
Sim, era. Victor superou as próprias expectativas e despertou de vez no presente. Pôde relacionar as dores nos quadris e nas coxas com a cavalgada do dia anterior, a dor no restante do corpo pelo esforço durante a tempestade. “Philip... Bom, Philip fica pra depois”, pensou.
Sem mais perder tempo, Victor voltou pra escuridão da casa e saiu desabalado pelo corredor em direção às escadas, mas logo interrompeu o passo ao deparar-se com Dyllan poucos metros adiante, este derrubando com terrível estrondo uma bandeja metálica, cacos e líquido preto espalhando-se pelo piso amadeirado.
- Sr. K-Kopperden, era s-seu café da m-manhã! – choramingou o mordomo, retirando um lenço de dentro do colete na tentativa de impedir o café de rolar pelos degraus da escada.
- Olá, Dyllan, bom dia! – a voz de Victor era tranqüila, típica de quem recém despertava, apesar da angústia.
- O senhor não d-deve sair pelos corredores assim, tendo... visitantes.
- Assim... ah, por Deus, me perdoe, Dyllan!
Victor deu meia volta e em um minuto estava novamente no corredor, devidamente vestido dessa vez, uma calça descolada de ginástica, curiosamente com aberturas nas laterais das panturrilhas, e uma leve regata branca costurada à mão. Dyllan juntava as últimas peças do que fora uma xícara minutos atrás.
- Agora sim, Dyllan. Desculpe novamente.
- Tudo bem, Sr. Kopperden. O café está servido, e nenhum dos hóspedes levantou exceto Ulysses.
- Para onde ele foi?
- Ele acordou relativamente cedo e foi em direção ao casebre.
- É, ele faz o tipo cavaleiro – Victor olhava para as imensas vidraças na sala como se pudesse ver o rapaz cavalgando ao longe.
- Estava indo para algum lugar, Sr. Kopperden? – disse Dyllan, que já juntara todos os destroços sobre a bandeja e preparava-se para sair.
- Não... Sim! Quer dizer... Você sabe que dia é hoje, certo?
- Sei, sim senhor. Eu sinto muito – falou, o tom sincero e fraterno. Dyllan manteve a cabeça abaixada por um instante. Já fazia algum tempo, mas o dia 2 de julho era sempre 2 de julho, não importava o ano.
- Bom – disse Victor, quebrando o mórbido silêncio. -, vou fazer o que tinha de fazer. Vejo você depois.
- O senhor n-não vai tomar o café?
- Mais tarde, Dyllan querido, não posso agora.
- O senhor está melhor? Permita-me tirar sua temperatura...
- Estou ótimo, obrigado, não é preciso – Victor descia as escadas de costas para mostrar um sorriso que pensava ser confiante para Dyllan. Este caminhava atrás dele, os pedaços quebrados tremendo na bandeja.
- Sr. Kopperden, o senhor não esteve bem nesse último dia, não é bom que ande com roupas tão frescas mesmo em pleno verão...
- Não se preocupe, já disse que estou ótimo. Só tenho que fazer uma coisa, eu preciso mesmo.
- O senhor nem calçou seus chinelos!
- Não faz mal, eu ando descalço!
Victor caminhou em direção à porta principal, porém virou-se e chamou por Dyllan antes de sair novamente para a luz do sol.
- Sim, Sr. Kopperden?
- Que bom saber que está usando o presente que lhe dei.
- Ah, sim – Dyllan falou atrapalhado, virando os olhos para tentar sem sucesso enxergar a corrente de prata ao redor do pescoço pálido. - É claro. C-Com licença.
Dyllan sumiu pela porta que levava à cozinha. Victor sentiu um misto de paz e gratidão ao saber que Dyllan estava seguro de qualquer que fosse a ameaça. Seu mordomo era uma pessoa de extrema importância para sua vida naquela casa imensa e sufocantemente solitária. Além do mais, Dyllan já tomava um espaço insubstituível em seu coração, e qualquer esforço para protegê-lo não seria desperdício de precaução. Victor não poderia se dar ao luxo de perder mais alguém tão significativo.
Fugindo dos pedregulhos da estrada de acesso, Victor caminhou pelas beiradas da casa até poder pisar na grama úmida. De início, a sensação das folhas e da terra entre seus dedos incomodou a ele, maníaco por asseio, mas pouco bastou para que esquecesse de detalhes tão mesquinhos. Primeiro, porque sentir a grama nas solas dos pés não era de todo ruim; as suaves cócegas lembravam-lhe de dias mais felizes onde a ingenuidade da infância lhe dava tudo o que valia saber do mundo. Segundo, pois bastou a visão das rosas na lateral da casa para que sua concentração estivesse voltada ao seu dever, tão dolorido para ele como se ainda lhe tirassem o pedaço perdido de si.
Victor escolheu a rosa mais branca e com mais pétalas que pôde encontrar e a arrancou com delicadeza, muito ao contrário de como lhe arrancaram a quem dedicava aquele momento. Foi tudo tão rápido que a ferida não parecia completamente cicatrizada, reabrindo de tempos em tempos para sangrar mais um pouco. Victor fechou os olhos com força para manter-se focado na rosa. Ao abri-los, contudo, achou que aquela não era bonita o suficiente, e jogou-a de volta à roseira. Optou por escolher a mesma, presa no meio dos espinhos onde, ao recuperá-la, arranhou o antebraço.
Agora estava pronto: mais alguns passos e chegaria aonde tudo teve fim, nas questões práticas. Sentiu necessidade, por fim, de falar com o único que poderia dividir aquele dia. O casarão de Gustav Corris ficava um pouco mais de um quilômetro na direção nordeste, e chegaria lá, se fosse apressado, dentro de vinte e cinco minutos.
A medida que caminhava, o ventinho sutil que soprava seus cabelos afastou também as lágrimas que deslizaram pelas laterais de seu belo rosto. Ainda era duro pensar que depois de toda a calamidade ainda havia espaço para trevas. Ao passar sob uma das árvores altas e arredondadas ao topo próximas do casarão, ouviu um galope aproximar-se velozmente que Victor voltou a si, de modo tão abrupto que o pavor ao reconhecer um de seus cavalos empinado sobre si o fez soltar um berro que pareceu surgido do ar do vento, e não do que lhe ausentava em seus pulmões. As ferraduras surravam o ar, e o cheiro do animal sentiu-se como uma ameaça não cumprida.
- Ôa, ôa! Quietão aí, seu trapaceiro.
E então, todo o melodrama da última hora – hora que não preenchia devidamente nem vinte minutos – esvaiu-se. O cavalo negro, Lylo, pôs enfim as quatro patas no gramado campeiro, enquanto um raio de sol, ultrapassando com ultraje as verdes folhas da árvore, ousou bater e refletir em incontáveis pontos luminosos o torso molhado do mais novo cavaleiro hospedado em um dos seus quartos. Um dos quartos que não era vizinho do seu, um dos que nunca – ainda – visitara.
- Ora, bom dia ao senhor Victor Kopperden, Lylo – a voz não reluzia o sol, mas tinha um quê de incandescente.
- Ulysses, bom dia. O que... O que está fazendo?
- Estava sem sono – disse o montador, posicionando o chapéu característico sobre os compridos cabelos marrons; ao dobrar os braços, Victor não pôde deixar de notar que por baixo daqueles sobretudos típicos de Ulysses escondiam-se torneados músculos, nada desproporcionais ao conjunto, dando o perfeito molde ligando o peito, os poucos pêlos das axilas e os braços saudavelmente atrofiados.
“É tão lindo... e ele brilha”.
- Senhor Victor? Bom dia?
- Perdão, Ulysses, estou confuso... Minha mente anda a milhas daqui, mesmo que não devesse, com certeza.
- Tudo bem – Ulysses prolongou as palavras, olhando Victor com suspeita indecente ao girar o cavalo com as rédeas. – Não tem problema eu pegar o bonitão aqui emprestado, certo?
- Imagina se houvesse, Ulysses, os cavalos estão a sua disposição.
- Ah, que bom, senhor, é muito gostoso cavalgar por aqui, o terreno é imenso.
“Gostoso. Verdade incontestável”.
- E o senhor, caiu da cama? – perguntou Ulysses enquanto descia habilmente de Lylo.
- Não há necessidade de me chamar de senhor.
- Eu prefiro assim, se não se importa. Me faz lembrar do meu lugar.
- Lugar?
- Sim, quem eu sou e quem você é, principalmente. Vou ser sincero, isso parece férias, mas estou ganhando para isso, portanto, é trabalho.
- Creio que entendo o que diz.
- Claro que entende. Pelo visto, o senhor caiu mesmo da cama, nem calçou sapatos.
- Ah, sim, foi uma distração, mas não tem muita importância agora.
- Não mesmo? O senhor estava bem longe do que seria fora de risco ontem à noite. Andar descalço por aí, ainda mais com esse vento fresco – “...que balançam tão graciosamente seu longo rabicho sob o chapéu...” -, o Dyllan vai lhe pegar por aí, estou dizendo.
- Curioso seu comentário. Já esbarrei com ele agora há pouco. Mas vocês estão superprotetores à toa. Estou plenamente bem.
- Está certo disso? Seus olhos me dizem o contrário.
- O que há com meus olhos?
Ulysses deu lentos três passos na direção de Victor, parado de ombros descansados na sombra da grande árvore. Ulysses parecia ler seu olhar, estudá-lo com cuidado de quem observa cada mínimo detalhe.
- Estão úmidos. Dá para notar, geralmente seus olhos são mais esverdeados, mas agora estão tão azuis quanto o céu.
“Detalhista. Nada como outras qualidades em alguém que dá a impressão de ser tão óbvio. Bobagem minha pensar assim”.
- E o marejar – Ulysses prosseguiu, tocando de leve o canto do olho esquerdo de Victor. – não é de quem acordou agora, não... O senhor estava chorando. Por que?
- Chorando? Ah, não é nada demais, tenha certeza disso.
- Senhor, me perdoe! – disse Ulysses, agitado.
- Tudo bem, foi só uma observação...
- Não é isso, eu sujei seu rosto de terra, espere um segundo – Ulysses esfregou as costas da mão na parte traseira das calças e em seguida passou uma das falanges sobre a sujeira na face pálida de Victor.
Agora só faltava uma coisa para tudo se desencaminhar, ou, no ponto de vista conturbado de Victor, finalmente concretizar algo que ontem não era nada senão imaginação. Doentia, como sempre, pois nada era intencionado, as coisas insistiam em tomar rumos contrários.
“É a imagem tão encantadora de tão rara beleza masculina... O cheiro que invade meus pulmões enfraquece meus sentidos... E o toque é... duro, até mesmo bruto, mas... delicado”.
- Isso é suor? – Victor perguntou, apontando para o peito bronzeado e moreno de Ulysses, uma pequena linha dividindo o tórax.
- Quem diria, depois de ontem? Mas com esse clima bom, e depois de um tempo de montaria, eu só poderia terminar suado.
“Ele está suado. Isso não é bom”.
- Você... – sua boca estava torturantemente seca. – Você transpira facilmente? – “O que estou dizendo?”.
- Ah – Ulysses sorriu. Victor arrepiou-se de cima a baixo, provocando reações constrangedoras se se tratasse de uma situação socialmente corriqueira e formal. -, parece que tenho um mar dentro de mim.
- Que ótimo, eu aprendi a nadar bem cedo.
- É – Ulysses deu risada, brincalhão como um menino. -, o senhor não perde a oportunidade. Nem o senso de humor.
“Pensei alto demais”.
- Eu gosto disso no senhor.
“Ele gosta. Já é um começo”, pensava Victor, levando a linha de raciocínio para um só lugar, o mais confortável que conhecia.
“Controle”. Pensar assim era, de fato, um começo para Victor. Um grão de areia para aquele mar.
E aí, o vento soprou e o grão se perdeu.
E aí, com o passar da brisa e o cair de uma folha, caiu também uma gota de transpiração de uma mechinha de cabelos castanhos lambuzados por sobre o ombro moldado de Ulysses, que desceu, rolou na infante penugem clara e atravessou, sem se perturbar, o pequeno arredor do mamilo direito, e seguiu rolando, interrompendo-se com variáveis, quase caindo e voltando de novo à pele morena.
- Fique parado – ordenou Victor, incontido.
Com um movimento breve embora intenso, Victor abaixou-se o suficiente para colar sua língua logo abaixo da mama de Ulysses, subindo-a fervorosamente até, por um instante, cobrir por completo aquele pedacinho escurecido e arredondado, até quase subir ao ombro, até cobrir a língua inteira com aquela gota de suor que multiplicou-se por outras e por restos de outras ainda presas àquela pele quente e levemente salgada. E então recuperou a postura, fechou a boca e saboreou aquilo como o néctar divino.
Ulysses tinha ao mesmo tempo uma expressão de espanto e encantamento.
- O que foi isso, meu pai?
“Não é mesmo bom. É o limite ultrapassado de algo que se chama de gostoso”.
- O senhor não está bem mesmo. Mas se é assim, ótimo. O senhor merece.
Ulysses tentou uma aproximação, chegando bem perto da orelha de Victor, que o afastou com certa repreensão.
- Não, eu não devo. Não posso. Hoje... Não somente hoje, mas... Não posso.
Victor afastou-se correndo em direção aos portões da mansão, deixando um aguçado Ulysses para trás.
- Esse cara sabe provocar – foi só o que pôde dizer o caubói dispensado. – Hei, senhor Victor?
O grito interrompeu as passadas aturdidas, mas Victor apenas virou a cabeça o necessário para ver o rapaz pelo canto do olho.
- Que gosto tem, afinal?
“Hum”.
- Tem gosto de mar.
Não demorou para Ulysses persegui-lo, de volta no lombo de Lylo. O belo cavalo negro aliviou a corrida e troteou gracioso ao lado de Victor, Ulysses gingando como numa dança, um pular ritmado.
- Aonde está indo?
- Preciso visitar um amigo.
- O senhor Corris?
- Sim, como sabe?
- É o único amigo que sei que o senhor tem, e não vi nenhuma casa nas redondezas.
- Meu único amigo? E quanto a Celine, ao Dyllan?
- Os dois são seus empregados, por mais próximos que vocês sejam. Celine é outro tipo de amizade, e Dyllan... – Ulysses terminou a frase deixando-a perder-se na brisa, o olhar perdido no horizonte colorido ao norte, nas sombrias montanhas. Victor não contentou-se.
- Você estava falando de Dyllan. Continue.
- Não é nada de mais. Ele... Ele é um bom amigo, sem dúvida.
Pausa.
- Uma carona?
- Como disse?
- Quer uma carona, tem espaço aqui atrás, é só subir.
- Não se preocupe, posso andar até lá.
- Pode deixar de ser teimoso e subir. Me dá a mão.
Mal Victor estendeu o braço, Ulysses agarrou-o firme acima do seu cotovelo e impulsionou-o para trás de si, na área acolchoada que sobrava.
- Eu fico sem jeito – admitiu Victor.
- Sem jeito? – disse Ulysses, animado. - E eu que pensava que depois de me lamber só vinha lucro e extravagância.
- Não sou tão óbvio quanto pareço.
- Fantástico, nem eu – “Eu já sabia disso”. - Deixa-me ver se fica bem em você.
O rapaz retirou o chapéu bege de tecido firme, torcendo o corpo ao limite até encarar Victor sem cair do cavalo, e colocou-o com a firmeza e o cuidado de um homem habilidoso.
- Eu nunca usei um desses. Devo estar decepcionante.
- O senhor precisa reavaliar tudo o que diz. Estou certo disso, agora.
- Certo de quê?
- Você não é nada óbvio – Ulysses ajeitou os fios dourados confusos atrás das orelhas de Victor, apertando o chapéu em sua cabeça mais uma vez. Victor não era, de todo, um caubói, mas a mania de manter o queixo ereto o dava total elegância. - Segura aí, peão.
Ulysses puxou Victor com um dos braços o mais próximo que pôde das suas costas, espremendo a leve camiseta cavada que este vestia entre seus corpos.
A montaria não durou muito tempo, mas foi o bastante para Victor deliciar-se com o saltitar forte de Lylo. Os cabelos de Ulysses iam e vinham em seu rosto, e o suor de suas costas grudara por completo em sua camiseta, bem como nas mãos que seguravam firmemente os quadris do garoto cavaleiro.
- O senhor está confortável? – a pergunta surgiu na descida de uma colina próxima ao casarão de Gustav.
- Nunca gostei tanto de cavalgar.
- Hum, aposto que pode gostar mais que isso.
Victor sentiu-se indagado.
- Quantos múltiplos sentidos você está insinuando?
Ulysses deixou-se apenas sorrir, contagiando Victor. O abraço intensificou-se.
Logo chegaram ao terreno fronteiriço da casa de Gustav Corris. Apesar das proporções semelhantes com a própria mansão, Victor admirava o modo como as folhas contorciam-se e escalavam os paredões de tijolos à vista, numa casa que assemelhava-se a uma pirâmide, sendo três andares formando um triângulo com traços pontiagudos de uma parede a outra.
- Deixo-lhe aqui. Acho que o senhor Corris pode arranjar uma maneira de lhe trazer de volta.
- Por que não fica? – Victor perguntou, enquanto descia segurando a perna do cavaleiro.
- Não posso. Assunto de caubói.
Uma piscadela decorou o rosto jovial do rapaz, apertando a mão que segurava sua perna acima do joelho.
- Ah, Ulysses, obrigado.
- Pela carona? Não há de quê.
- Não, por me chamar de “você” lá atrás. Duas vezes.
Ulysses arreganhou os dentes sob a aba do chapéu.
- E pela carona também, caubói.
- Ao seu dispor! – ergueu o cavalo sobre as patas traseiras, girou-o ainda no ar e partiu, Lylo correndo velozmente de volta aos portões.
- Ulysses, o chapéu!
- Fique com ele! – foi o sopro que recebeu de longe.
Atrás de si, Victor ouviu o abrir de portas e uma voz gutural e amiga confortando-o, dando-lhe o agradável ar hospitaleiro de que tanto precisava.
- Sabia que você viria.
- Julho começou ontem... – Victor gemeu, agradecido.
- E hoje é o segundo dia. Entre, caubói, e não me faça dizer duas vezes.
Ao virar-se para a porta dupla de carvalho escuro, as pupilas de Victor resplandeciam sua dor na melancolia do seu azul. O homem alto, corpulento e negro à sua frente lhe estendia a mão.



*****


Um comentário:

Unknown disse...

WOW eu sentia falta de ler o blog ^^

Nossa tem ficado cada vez melhor d ler, mais agradavel e se sente mais as sensações dos personagens!

O estranho que parece que os personagens foram reescritos XD

Ulysses tão iponente e Victor tão indefeso oO
parece ateh virgem XDDDD


mas mesmo assim ta otimo muito bom

Parabens ^^