Continuação...
Apesar de sua voz trêmula, Dyllan ergueu-se e foi até uma prateleira colada na parede ao lado, pegou o frasco plastificado e despejou o conteúdo branco nas mãos, massageando-as. Voltou-se para Victor e ajoelhou-se atrás de seu patrão, tocando as mãos nos seus ombros úmidos.
“Era tudo o que estava me faltando”, pensou Victor. “Agora sim, completo: banho, chocolate, massagem... uma noite de sexo selvagem. Seria tudo isso necessário?”.
Victor sentia os dedos de Dyllan apertarem-lhe os nervos tensos de seu pescoço e ombros, num fluxo de idas e vindas entorpecente. Era quase uma dança, onde o guia eram as mãos delicadas de Dyllan, e seu corpo apenas deixava-se levar, balançando conforme o ritmo. Poderia ser como uma orquestra, sendo Dyllan o maestro experiente, e seus reflexos corpóreos dando vida à melodia. Eram, enfim, apenas duas mãos e um corpo enrijecido. Ação e reação.
- Me conte, Dyllan, ligou para Gustav? – perguntou Victor, de olhos fechados, voz macia.
- Sim, senhor, o Sr. Corris f-foi muito gentil e solícito – respondeu Dyllan enquanto massageava seu patrão. - Ele ficou de retornar a ligação p-para o senhor.
Das costas aos ombros, e desses aos braços pálidos, retornando aos ombros, perto do pescoço, deslizando ao peito, massageando o coração. Era estranho e ao mesmo tempo confortável: Dyllan movimentava suas mãos do modo como Victor queria, sem que este necessitasse indicar por onde seguir. “Aperte... preciso de força... muito bom...”.
Dyllan puxou suas mãos cremosas para fora da banheira em um impulso repentino. Victor notou o aparente susto do rapaz.
- Por que parou? Parece-me que recuou ao...
- Não, não é isso, senhor – explicou-se Dyllan, confuso. – Apenas não me permito... digo, apenas... o s-senhor já se mostra relaxado.
- Ah, claro – confirmou Victor, com surpresa. – Nem havia reparado. Agradeço muito sua disposição, Dyllan.
- Não... não foi nada, senhor...
Victor torceu seu tronco para olhar Dyllan de frente.
- Dyllan, por que está agindo dessa forma? Não se sinta um desconhecido ao meu lado, você é meu confidente, íntimo do meu coração e do meu afeto.
- Não entendo, senhor – disse Dyllan, parecendo aflito.
- Você ultimamente age receoso comigo, como se eu fosse agredi-lo, atacá-lo. Você sabe que eu jamais faria alguma coisa a você.
- Eu sei, Sr. Victor. Me desculpe – assentiu Dyllan, quase inaudível.
Victor ensaboou-se durante alguns minutos de silêncio, quebrado pela respiração sempre alta de Dyllan. Mergulhou mais uma vez na água espumante, e levantou-se abruptamente na banheira. Saiu pingando pelo tapete de borracha, e pegou a toalha seca da parede.
- Dyllan, venha até meu quarto, quero lhe dar uma coisa.
Dyllan levantou-se encurvado e seguiu trôpego até o quarto, agindo como se estivesse sofrendo de tonturas. Victor secava-se, sacudindo os cabelos bagunçados.
- Abra a primeira gaveta do meu criado-mudo – disse Victor, saindo do banheiro com a toalha enrolada um pouco abaixo da cintura, apontando para o lado de sua cama.
Dyllan dirigiu-se com passos inconstantes até o móvel, e o abriu.
- Vê esse apito de prata, Dyllan? Meu pai me presenteou com ele quando eu fiz sete anos.
- É muito bonito, senhor – disse Dyllan, observando o apito metálico preso a uma fina corrente, também de prata, emaranhado em alguns pertences de seu patrão.
- Quando ele me deu, ele me disse mais ou menos assim: “meu filho querido, quero que veja este apito como uma chave”. E eu pensei: “Chave? Como um apito seria uma chave? O que ele abriria? O que haveria dentro desse lugar?”.
“Como se lesse minhas indagações no ar, ele me disse que se tratava de ‘...uma chave de emergência. Sempre que estiver em algum tipo de apuros...’, ele disse, ‘...use-o com força que virei o mais rápido possível onde você estiver’, e colocou-o no meu bolso, pois pendurado o apito parecia grande demais, correndo o risco de eu tropeçar e cair. Eu nunca o usei, ao menos não para emergências. Usava seguidamente para espantar alguns pássaros que insistiam em atormentar meus sonhos de adolescente pela manhã.
Dyllan continuava intrigado com aquele apito, e a intenção oculta do Sr. Victor para com ele, Dyllan.
- Dyllan, meu querido – falou Victor, agora ao lado do menino, que ergueu-se de prontidão. – Todos os dias eu lhe chamo incontáveis vezes para as mais diversas tarefas, sem nem mesmo saber se você está em condições de realizá-las.
- São minhas obrigações, senhor.
- Não gosto de dizer obrigações, Dyllan. Prefiro que não diga assim. Soa como se eu realmente lhe obrigasse a fazer coisas das quais sei que você tem prazer em fazê-las.
- Está certo, senhor...
Victor encurvou-se e pegou o apito prateado.
- Quero que, a partir de hoje, você use esse apito pendurado em seu pescoço.
- Eu?! – espantou-se Dyllan, enquanto Victor adornava seu pescoço magro com o cordão. – Mas com que...
- Desejo que desse momento em diante você tenha a possibilidade de me chamar quando precisar. Para quando estiver enrascado em problemas não solucionáveis estando sozinho.
- Sr. Victor, mas por que eu...
- Nunca se sabe, Dyllan, e quero que o carregue sempre junto ao peito. Use-o como forma de proteção, para saber que eu não quero seu mal, pois considero-o muito, meu rapaz. Você tem sido um valoroso amigo, e não quero que passe por situações amedrontadoras.
Dyllan balançava a cabeça negativamente, seus olhos castanhos vibrando com rapidez nas órbitas, lábios trêmulos.
- Eu não sei o que dizer, senhor...
- Não diga nada, meu querido – disse Victor, beijando-lhe a testa afavelmente. – Apenas use-o, e estarei tranqüilo.
Victor sorriu carinhosamente ao jovem moço. Encabulado, Dyllan retribuiu a atitude, não conseguindo encarar seu patrão nos olhos.
Ouviu-se o telefone tocar sonoramente ao longe. Victor olhou em direção à sala como se enxergasse através das grossas paredes da casa.
- Aposto uma de suas massagens que é Gustav que deseja falar comigo. Atenda-o e traga o telefone até mim. Por favor, Dyllan.
O mordomo assentiu, e de cabeça baixa, retirou-se.
Victor juntou a camisinha do tapete usada na outra noite, abriu a vidraça e jogou com força além do barranco.
“Era tudo o que estava me faltando”, pensou Victor. “Agora sim, completo: banho, chocolate, massagem... uma noite de sexo selvagem. Seria tudo isso necessário?”.
Victor sentia os dedos de Dyllan apertarem-lhe os nervos tensos de seu pescoço e ombros, num fluxo de idas e vindas entorpecente. Era quase uma dança, onde o guia eram as mãos delicadas de Dyllan, e seu corpo apenas deixava-se levar, balançando conforme o ritmo. Poderia ser como uma orquestra, sendo Dyllan o maestro experiente, e seus reflexos corpóreos dando vida à melodia. Eram, enfim, apenas duas mãos e um corpo enrijecido. Ação e reação.
- Me conte, Dyllan, ligou para Gustav? – perguntou Victor, de olhos fechados, voz macia.
- Sim, senhor, o Sr. Corris f-foi muito gentil e solícito – respondeu Dyllan enquanto massageava seu patrão. - Ele ficou de retornar a ligação p-para o senhor.
Das costas aos ombros, e desses aos braços pálidos, retornando aos ombros, perto do pescoço, deslizando ao peito, massageando o coração. Era estranho e ao mesmo tempo confortável: Dyllan movimentava suas mãos do modo como Victor queria, sem que este necessitasse indicar por onde seguir. “Aperte... preciso de força... muito bom...”.
Dyllan puxou suas mãos cremosas para fora da banheira em um impulso repentino. Victor notou o aparente susto do rapaz.
- Por que parou? Parece-me que recuou ao...
- Não, não é isso, senhor – explicou-se Dyllan, confuso. – Apenas não me permito... digo, apenas... o s-senhor já se mostra relaxado.
- Ah, claro – confirmou Victor, com surpresa. – Nem havia reparado. Agradeço muito sua disposição, Dyllan.
- Não... não foi nada, senhor...
Victor torceu seu tronco para olhar Dyllan de frente.
- Dyllan, por que está agindo dessa forma? Não se sinta um desconhecido ao meu lado, você é meu confidente, íntimo do meu coração e do meu afeto.
- Não entendo, senhor – disse Dyllan, parecendo aflito.
- Você ultimamente age receoso comigo, como se eu fosse agredi-lo, atacá-lo. Você sabe que eu jamais faria alguma coisa a você.
- Eu sei, Sr. Victor. Me desculpe – assentiu Dyllan, quase inaudível.
Victor ensaboou-se durante alguns minutos de silêncio, quebrado pela respiração sempre alta de Dyllan. Mergulhou mais uma vez na água espumante, e levantou-se abruptamente na banheira. Saiu pingando pelo tapete de borracha, e pegou a toalha seca da parede.
- Dyllan, venha até meu quarto, quero lhe dar uma coisa.
Dyllan levantou-se encurvado e seguiu trôpego até o quarto, agindo como se estivesse sofrendo de tonturas. Victor secava-se, sacudindo os cabelos bagunçados.
- Abra a primeira gaveta do meu criado-mudo – disse Victor, saindo do banheiro com a toalha enrolada um pouco abaixo da cintura, apontando para o lado de sua cama.
Dyllan dirigiu-se com passos inconstantes até o móvel, e o abriu.
- Vê esse apito de prata, Dyllan? Meu pai me presenteou com ele quando eu fiz sete anos.
- É muito bonito, senhor – disse Dyllan, observando o apito metálico preso a uma fina corrente, também de prata, emaranhado em alguns pertences de seu patrão.
- Quando ele me deu, ele me disse mais ou menos assim: “meu filho querido, quero que veja este apito como uma chave”. E eu pensei: “Chave? Como um apito seria uma chave? O que ele abriria? O que haveria dentro desse lugar?”.
“Como se lesse minhas indagações no ar, ele me disse que se tratava de ‘...uma chave de emergência. Sempre que estiver em algum tipo de apuros...’, ele disse, ‘...use-o com força que virei o mais rápido possível onde você estiver’, e colocou-o no meu bolso, pois pendurado o apito parecia grande demais, correndo o risco de eu tropeçar e cair. Eu nunca o usei, ao menos não para emergências. Usava seguidamente para espantar alguns pássaros que insistiam em atormentar meus sonhos de adolescente pela manhã.
Dyllan continuava intrigado com aquele apito, e a intenção oculta do Sr. Victor para com ele, Dyllan.
- Dyllan, meu querido – falou Victor, agora ao lado do menino, que ergueu-se de prontidão. – Todos os dias eu lhe chamo incontáveis vezes para as mais diversas tarefas, sem nem mesmo saber se você está em condições de realizá-las.
- São minhas obrigações, senhor.
- Não gosto de dizer obrigações, Dyllan. Prefiro que não diga assim. Soa como se eu realmente lhe obrigasse a fazer coisas das quais sei que você tem prazer em fazê-las.
- Está certo, senhor...
Victor encurvou-se e pegou o apito prateado.
- Quero que, a partir de hoje, você use esse apito pendurado em seu pescoço.
- Eu?! – espantou-se Dyllan, enquanto Victor adornava seu pescoço magro com o cordão. – Mas com que...
- Desejo que desse momento em diante você tenha a possibilidade de me chamar quando precisar. Para quando estiver enrascado em problemas não solucionáveis estando sozinho.
- Sr. Victor, mas por que eu...
- Nunca se sabe, Dyllan, e quero que o carregue sempre junto ao peito. Use-o como forma de proteção, para saber que eu não quero seu mal, pois considero-o muito, meu rapaz. Você tem sido um valoroso amigo, e não quero que passe por situações amedrontadoras.
Dyllan balançava a cabeça negativamente, seus olhos castanhos vibrando com rapidez nas órbitas, lábios trêmulos.
- Eu não sei o que dizer, senhor...
- Não diga nada, meu querido – disse Victor, beijando-lhe a testa afavelmente. – Apenas use-o, e estarei tranqüilo.
Victor sorriu carinhosamente ao jovem moço. Encabulado, Dyllan retribuiu a atitude, não conseguindo encarar seu patrão nos olhos.
Ouviu-se o telefone tocar sonoramente ao longe. Victor olhou em direção à sala como se enxergasse através das grossas paredes da casa.
- Aposto uma de suas massagens que é Gustav que deseja falar comigo. Atenda-o e traga o telefone até mim. Por favor, Dyllan.
O mordomo assentiu, e de cabeça baixa, retirou-se.
Victor juntou a camisinha do tapete usada na outra noite, abriu a vidraça e jogou com força além do barranco.
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2 comentários:
E começa a ficar mais interessante ainda... ;)
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